COMO A DANÇA ME AJUDOU NO PÓS TRATAMENTO DO CÂNCER



A palavra dança é de origem controversa, provavelmente do idioma Francês, danse. Surgiu no Século XIII.

Poe sua vez, a dança do ventre (DV) é praticada em diversas regiões do Oriente Médio e da Ásia Meridiosnal. Sua origem tem por volta de 7000 a 5000 a.C e pode ser encontrada no Antigo Egito, Babilônia, Mesopotâmia, Pérsia e Grécia, e seu objetivo era preparar a mulher através de ritos religiosos dedicados a deusas para se tornarem mães. Com a invasão dos árabes, a dança foi propagada por todo o mundo.

A minha relação com a dança começa na infância. Filha de nordestinos, as festas familiares não ocorriam sem que houvesse música. As remotas lembranças que tenho deste período incluem meus pais dançando forró e foi este o primeiro ritmo que aprendi.

Por muitos anos acalentei o desejo de fazer aulas de dança em uma escola, mas sabe aquele desejo que você vai adiando, adiando? Até que chegou o dia de realizá-lo. No meu caso isso ocorreu depois de uma fase crítica. Durante o tratamento quimioterápico e radioterápico eu havia decidido colocar mais alegria e leveza na minha vida e foi essa uma das primeiras ações que realizei após o tratamento matriculando-me nas aulas de dança de salão na cidade de Londrina. A princípio freqüentei as aulas uma vez por semana e depois passei a freqüentá-las três vezes na semana e isso se tornou viciante para mim.

Ao me mudar para Porto Alegre em 2011 não encontrei uma escola próxima de casa, mas achei uma perto do trabalho na qual o único horário que se adequava a mim seria na aula de dança do ventre. Na época em Londrina esta modalidade não era tão difundida, mas em Porto Alegre sim. Durante uma aula a professora nos explicou que começaríamos a ensaiar determinada coreografia para nos apresentar no final do ano. Esta foi minha última aula naquela escola. Era inimaginável para mim me apresentar em público.Talvez esse desconforto tenha surgido quando eu tinha por volta de 8 anos e fazia ginástica rítmica, sendo que no dia da apresentação deixei a bola cair. Fiquei um bom tempo aterrorizada com a ideia de me apresentar. O engraçado é que não tenho qualquer problema para falar em público, mas na dança me sentia exposta demais.

O problema era que não conseguia mais passar meus dias sem aulas de dança até que meses depois conheci a escola Gawasy, mais próxima de casa, e, então pude realizar esse desejo. Familiarizei-me tanto com as colegas de aula, com a professora Egnes fundadora da escola a qual tenho muita gratidão, que comecei as aulas e não queria parar mais. O mais interessante é que após uns dois meses de aula iniciamos o ensaio de uma coreografia e ela nos convidou para fazer uma apresentação no final do ano nos deixando a vontade para aceitar ou não. A ideia me parecia assustadora mas queria muito vencer o desafio e dessa vez não fugi.
Na noite anterior à apresentação eu praticamente não dormi. Fazer o quê? A ansiedade era maior e o medo de passar ridículo era enorme, mas passar ridículo às vezes faz parte do aprendizado. Aqui vale uma dica: às vezes se durante uma apresentação você se mantem sorrindo, o público nem percebe o erro cometido ou ainda percebe-o, mas respeita a bailarina que está no palco. Nós em que somos rígidos demais na maioria dos casos. A dança é fonte de prazer e principalmente um meio que tenho para desenvolver a leveza.

Historicamente falando, a dança do ventre era predominantemente feminina. Hoje já é executada por homens, contudo é importante esclarecer que o ritmo Said, executada com bastão ou bengala, era dançado pelos homens (pastores) quando precisavam ir para a guerra e deixavam as mulheres executando as tarefas.  Veja: https://www.youtube.com/watch?v=oI1-xfUbXPE.
Há vários ritmos de dança do ventre, entre eles: baladi, said, derbake, khalegee, entre outros, com uso ou não de acessórios, dependendo do ritmo a ser dançado, como a espada, snuj, cobras, véu, taças, candelabro, entre outros. Cada um com características e culturas próprias.

Vale salientar que a dança do ventre era realizada pelas mulheres com intuito de despertar o feminino, o sagrado, a fertilidade e particularmente acho importante compreender o verdadeiro sentido da dança que vai muito além de uma dança sensual como se pensa equivocadamente.
É importante eu comentar que a DV exige domínio e conhecimento do corpo o qual só é adquirido com a prática, mas é uma dança que gera bem estar e resgate da autoestima, justamente por que proporciona a autovalorização da feminilidade.

Os benefícios que a dança proporciona são inúmeros. Eis relacionado abaixo 16 benefícios listados em ordem alfabética:
01. Amizade: a amizade cultivada durante as aulas vai muito além das mesmas.


02. Autoconfiança: permite desenvolver a autoconfiança diante dos obstáculos vencidos.


03. Autocuidado: é possível desenvolver o senso de autocuidado, atenção e carinho consigo mesma.


04. Cultura: a dança do ventre pode ser realizada por puro prazer. No entanto, é inevitável passarmos a conhecer com mais profundidade a cultura da qual ela faz parte.


05. Divertimento: a realização de atividade prazerosa para si por si só no meu ponto de vista é lúdica e curativa.


06. Estética: dança do ventre dá barriga? Não. Muitas bailarinas notam mudança positivas no corpo, desde emagrecimento até tonicidade dos músculos e melhora na circulação sanguínea dependendo da frequência com que a atividade é realizada e o organismo de cada pessoa.


07. Ferramenta: a dança do ventre tem sido utilizada por grupos de estudo para o resgate da autoestima de mulheres que estão em tratamento ou já tiveram câncer como é o caso da UNESP em Botucatu (SP) e a ONCODANCE que realiza oficinas gratuitas em Porto Alegre (RS).


08. Idade: qualquer pessoa pode fazer dança do ventre. Não há limite de idade para ser feliz, por que haveria de ter limite para dançar?


09. Individualidade: cada um tem seu próprio ritmo e se apresenta na dança de modo particular, logo é preciso respeitar-se acima de tudo.


10. Interação: as aulas em grupo permitem desenvolver senso de amizade e superação, pois conforme a coreografia a aluna pode apresentar dificuldades particulares a serem superadas, bem como o grupo como um todo tem um nível a ser alcançado. A superação de cada uma gera sucesso grupal e o resultado é conjunto (senso de equipe).


11. Leveza: durante o tratamento havia definido colocar mais alegria e leveza na minha vida e a dança foi a atividade escolhida para dar o start inicial deste que é um projeto de vida para mim. Eu dançaria todos os dias da minha vida se pudesse. Sinto imenso prazer na dança e embora não seja uma bailarina profissional sinto meu coração pulsar ao ouvir a música. Só isso já me faz um bem enorme.


12. Liberação de endorfina: por ser um exercício aeróbico ajuda no condicionamento físico e além disso a liberação da endorfina é relaxante.


10. Memória: O ensaio, as aulas,  somada  necessidade de gravar a coreografia estimula a ativação da memória.


11. Movimentos corporais: os movimentos realizados exigem atenção, concentração, domínio do corpo e delicadeza. Com a prática ao longo dos anos os movimentos vão sendo aperfeiçoados.


12. Mulheres árabes: as mulheres árabes não podem se apresentar em público, salvo as bailarinas, pois esta profissão é vista em muitos países como prostituição. Elas dançam em festas familiares entre amigas ou mesmo para seus maridos. A dança na cultura árabe não é aprendida em escolas como no mundo ocidental já que faz parte da cultura familiar e todas a praticam privadamente, principalmente em comemorações.


13. Percepção física/corporal: com o desenvolvimento da dança pode se adquirir maior percepção do próprio corpo e dos limites corporais.


14. Percepção mental e emocional: ao longo do treinamento é possível identificar as reações emocionais e mentais diante das aulas. Pude perceber momentos de resistência ao exercício ou de sensação de capacidade ou incapacidade. Tudo pode ser utilizado como laboratório de autopesquisa e desenvolvimento pessoal.


15. Saúde: além dos benefícios já citados, vale lembrar que a dança do ventre como o próprio nome diz exige movimentos ondulatórios executados pelo ventre sendo que há relatos de mulheres de que após o treinamento sentiram diminuição das cólicas menstruais e TPM. Além disso, antigamente a dança era usada como ferramenta para auxílio na gestação.


16. Sentimento: permite explorar e manifestar os sentimentos uma vez que de acordo com o ritmo, música escolhida e coreografia, o movimento executado exige demonstração de sentimento compatível. Ao longo do treinamento é possível tomar consciência da emoção a ser trabalhada.


Contribuição: as considerações feitas aqui fazem parte da minha experiência pessoal, assim espero ter contribuído de algum modo em relação a dança como atividade lúdica e fonte de autocuidado, saúde, bem estar e leveza.

Questionamento: você já se permite incorporar a dança a sua vida?


 
Autora do texto Adriane Pereira.
Gratidão Adriane pela tua contribuição no blog.
NAMASTÊ!







 
 
 
 
Linfoma de Hodgkin - O Corpo Nunca Mente - Video 2



 
Adriane dançando no grupo de alunas da professora Mary Roessler do Grupo Gawasy.


 

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